A Fisioterapia do Futuro
Como a tecnologia está a transformar a avaliação
- Avaliação em Fisioterapia
Há muito tempo, numa era em que os goniômetros eram ferramentas revolucionárias e os fisioterapeutas dependiam do olho clínico e de palpitações mágicas, ninguém imaginava que um dia iríamos falar de wearables, sensores 3D e realidade aumentada como parte do dia a dia. Mas cá estamos. Quem diria que uma profissão nascida da necessidade de esticar músculos e corrigir posturas evoluiria para um verdadeiro laboratório de ciência aplicada? No século XIX, quando tudo começou, a fisioterapia era mais arte do que ciência. Fazia-se o que se podia com as mãos, os olhos e um bocado de bom senso. Era uma espécie de dança improvisada entre o terapeuta e o paciente. Depois vieram as guerras. E com elas, a urgência: soldados destroçados precisavam de voltar ao campo (ou pelo menos à vida). A fisioterapia teve de se apressar e organizar. Os goniómetros - aquelas réguas para medir ângulos - e os dinamómetros manuais entraram em cena, marcando o início de uma era de objetividade… mais ou menos. É que na verdade, tudo dependia da experiência do fisioterapeuta e da paciência do paciente. E assim fomos andando. No século XX, começou a revolução a sério. Apareceram os dinamómetros isocinéticos, como os famosos Cybex e Biodex, que fizeram o que o goniómetro e o teste manual jamais poderiam: mediram força, potência e resistência de forma precisa e controlada. Foi como passar de uma bicicleta de madeira para um Tesla. As plataformas de força, caras como o diabo, juntaram-se à festa, permitindo analisar os saltos e os equilíbrios como se fôssemos cientistas de foguetes espaciais. E, claro, não podíamos esquecer a eletromiografia. No início, era preciso ser quase um cirurgião para a usar, com agulhas a espreitar músculos tímidos. Hoje, temos dispositivos portáteis que cabem no bolso, e custam menos do que um fim de semana prolongado na Madeira. No final do século XX, as coisas começaram a ficar interessantes. Começou-se a falar de funcionalidade com o Functional Movement Screen (FMS) - um nome pomposo para um conjunto de movimentos básicos que ajudam a identificar disfunções. Os fisioterapeutas passaram a olhar para o corpo humano como um todo, analisando o movimento em vez de partes isoladas. A biomecânica ganhou vida própria, com câmaras de captura de movimento e plataformas digitais que pareciam saídas de um filme de ficção científica. Já no século XXI, a coisa explodiu. A análise 3D de movimento democratizou-se - ou, pelo menos, tentou. Sistemas como o Xsens trouxeram a magia da captura de movimento para fora dos laboratórios e para dentro das clínicas. Dispositivos vestíveis como os da Garmin e Fitbit transformaram-nos em ciborgues amadores, monitorizando desde a frequência cardíaca até a qualidade do sono.
Hoje, vivemos num mundo onde ultrassons portáteis, plataformas de força miniaturizadas e realidade virtual são ferramentas banais para muitos fisioterapeutas. Parece mentira, mas é verdade: conseguimos avaliar o equilíbrio de alguém enquanto este salta num ambiente virtual. O custo? Vai de um wearable barato (cerca de €90) até sistemas que valem mais do que um carro de luxo. E o futuro? Ah, o futuro. Podemos esperar sensores que farão perguntas antes de o paciente se queixar, roupas inteligentes que corrigem a postura enquanto se anda e Inteligência Artificial (IA) que analisa padrões de movimento como se fosse um detetive biomecânico. E quem sabe, talvez um dia, possamos olhar para biomarcadores genéticos e dizer: “Este joelho vai dar problemas daqui a cinco anos.” Conclusão A fisioterapia já não é só exercício e massagens. É tecnologia, ciência e um pouco de magia. Mais do que nunca, é uma prática que não só devolve movimento, mas também transforma vidas. Porque, no final de contas, o futuro da fisioterapia não está nas máquinas. Está em quem as usa para fazer diferença.